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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Jornada da Família em Famalicão

O uso do termo “qualidade de vida” está, actualmente, em voga, sendo um dos slogans da sociedade pós-moderna ou, como defendem já alguns filósofos, da sociedade pós-humana. No entanto, Walter Osswald alerta para os perigos inerentes à tentação da qualidade de vida de uma determinada pessoa ser quantificada/qualificada por terceiros. O risco centra-se, segundo aquele médico e investigador, na defesa da própria vida.
Walter Osswald, que falava para cerca de duas centenas de participantes da segunda edição da Jornada da Família, que ontem se realizou no Centro Cívico e Pastoral de Famalicão, questionou se alguma vez o Homem quererá abdicar de ser humano, alertando que não falta na história quem o queira dominar e conduzir Walter Osswald na Jornada da Família em Famalicão Há perigo em quantificar a qualidade de vida dos outros sem vontade própria.
«Hoje, todas as pessoas falam em qualidade de vida mas, muitas das vezes, não sabem do que falam», sustentou o especialista em bioética, acrescentando que um conceito como aquele «não se pode reduzir nem quantificar apenas tendo em conta índices de cobertura de água e saneamento, do nível económico, de serviços, entre outras coisas».
Assim, Walter Osswald sustenta que «a qualidade de vida é aquela com que cada um vive e como enfrenta as suas dificuldades».
O médico e investigador frisou que «o valor da vida é que caracteriza a qualidade da mesma vida», questionando como alguém poderá reivindicar qualidade de vida quando, na realidade não respeita o valor da vida humana.
Tendo por base o tema da jornada “Família: um olhar solidário” e, como sub-tema “Família: santuário de vida”, Walter Osswald sustentou que a noção de qualidade de vida «é redutora se se pensar apenas na vertente biológica».
Foi a este propósito que o médico chamou a atenção de todos para a impossibilidade de se quantificar a qualidade de vida de alguém, sendo que quem o tenta fazer entra num terreno perigoso.
«É dramático quando alguém considera que o outro já não tem qualidade de vida», afirmou o conferencista. Para justificar a posição, Walter Osswald serviu-se da sua experiência como médico para indicar que, «é nesse preciso momento que surgem as questões como a eutanásia, o abandono clínico e mesmo o aborto».
Em termos mais práticos, o conferencista indicou que em alguns países europeus – foi citado o exemplo inglês – o serviço público de saúde recusa fazer uma operação cirúrgica cardíaca a uma pessoa com 80 anos, porque considera que a qualidade de vida desse cidadão já não justifica que se gaste dinheiro do erário público.
Walter Osswald passou depois a centrar a sua intervenção na questão do valor da vida, indicando ser «algo de fundamental quando se fala em Família».
«A solidariedade é, antes de mais, a responsabilidade da ajuda interpessoal», afirmou o conferencista abordando o tema central da jornada. Walter Osswald indicou, de seguida, que quando se ajuda alguém, quando se é solidário, é quem ajuda que mais feliz fica. E parafraseou S. Francisco de Assis: «é no dar que se recebe».
No entanto, o médico especialista em bioética defendeu que a solidariedade deve estar ligada à solicitude. Aliás, defendeu mais a Solicitude em vez de solidariedade experimentação da segunda que da primeira.
«A solidariedade pressupõe que haja antes o desencadear de um apelo; a solicitude é algo que é feito sem que haja apelos, parte da iniciativa individual e que exige atenção», frisou Walter Osswald. Por isso, é a solicitude que se aproxima mais do conceito cristão de caridade.
«Solicitude é, como se diz hoje, uma atitude mais pró-activa que a solidariedade», continuou o conferencista, acrescentando que «por vezes quem mais precisa já nem força tem para clamar por ajuda». Ora, no ambiente familiar saudável é a solicitude, muito mais que a solidariedade que opera. «Isso ocorre quando os pais notam que algo de errado se passa com um ou outro filho e, sem que estes peçam ajuda, tomam a iniciativa de ir ao seu encontro mostrando preocupação em os ajudar», explicou o médico pai de seis filhos e avô de 11 netos.
A parte final da intervenção de Walter Osswald abordou, como era de esperar pelo tema, a problemática do aborto. Mesmo confessando estar a falar para «quem não precisa de argumentos» ou para uma plateia de «convertidos», o especialista em bioética indicou nunca ser de mais falar no que é que o valor pela vida obriga a cada um.
Na questão concreta que os defensores do “sim” no referendo dizem que o embrião ou feto não é pessoa, Walter Osswald referiu, então, que quando um bebé nasce também não poderá ser considerada uma pessoa, já que é totalmente dependente e nem sequer tem o cérebro completamente desenvolvido. «Ninguém pode negar é que o embrião/feto é ser humano, pois se nada o matar dá sempre origem a uma pessoa humana e não a um qualquer animal», frisou o especialista.
Fonte: Agência Ecclesia, 05-02-2007